"Escrever sobre sexo é escrever sobre fracasso"
Uma mulher de 50 anos, que vive na e da literatura (é revisora), decide vingar-se de um homem que poderia ter amado. E escrever um livro desencadeado por um encontro sexual com um mecânico. É O meu amante de domingo, segundo (e extraordinário) romance da autora de E a noite roda, prémio de romance e novela APE 2013, Alexandra Lucas Coelho.
Ah, uma mulher a escrever sobre sexo, sexo sem amor, sexo por sexo, com palavrões, até parece um homem - antecipava que O meu amante de domingo seria recebido assim, como, disse o Expresso, "descrição desabrida e meticulosa da vida sexual"?
Não me revejo na palavra "desabrida". Mas para ser franca quando acabei de escrever tinha muitas dúvidas quanto à forma como o livro ia ser recebido, mas em relação à violência. E o que mais me surpreendeu foi que a nota de humor - o livro tem muito humor - prevalecesse na leitura de várias pessoas em relação à violência ou agressividade do livro. Escrevê-lo foi um processo muito violento, a energia que esta mulher tem exauriu-me e com ela veio muita coisa que não sabia que ia vir ao de cima, e talvez em pano de fundo o país, o momento, e pensei: tive necessidade absoluta de o escrever, mas devo pô-lo no mundo? Confesso que nas horas seguintes a enviar o livro para a Tinta da China [a editora], a 30 de setembro, pensei: não vou publicar este livro, mas como vou explicar-me? E isso não tinha a ver com o sexo, mas com a pulsão de vingança. Porque é difícil trabalhar maus sentimentos, abismos. É esgotante. Perguntava: vou pôr isto tudo cá para fora, o negrume, esta coisa bélica?
Nada consentânea, de resto, com a sua escrita anterior, jornalística e literária.
Sim, é ver o que fiz para trás: estive em vários lugares de conflito e escrevi sobre a vida na guerra e a ideia de poder fazer pontes, aproximarmo-nos, porque aquilo que nos faz desconfiar do outro, ter medo, é a distância. Muito do meu trabalho sobre o Médio Oriente passava por isso. E neste livro percebi que o conflito é necessário, a energia do conflito é necessária, é uma pulsão de vida. Isso foi muito difícil, muito mais que a questão do sexo. Sendo franca, quanto ao sexo há um momento em que pensas: e a minha família, os amigos, que vão achar.